domingo, 14 de outubro de 2012

Pescas, botões e livros



Com meu pai, aprendi o sabor dos livros.
A culinária das palavras.
A sensação de plenitude ao ler e escrever.

Que pensamentos sem palavras são inúteis; assim como palavras sem ações.

Que dinheiro não é tudo; mas é importante.
Que só o acumular não é vencer.
Que qualquer excesso é ruim e a maioria das coisas, na medida certa, é o mapa para a vida boa.

A leveza segura de se poder aceitar a vida de camisa branca, shorts velhos, pés descalços e livros no coração.

Que o maior prazer da vida é buscar o impossível tudo-saber.
Que quanto mais aprendo, menos sei.
Que saber que não sei é o melhor saber; é motivacional.

O perigo de ilusórias marcas de grife e religiões formais, que ameaçam liberdades e provocam tragédias.

Quanto à factibilidade da convivência discordante.
Quanto às vantagens do respeitoso diálogo
Quanto à grandeza de se considerar, polir, acalentar e adotar ideias alheias.

Que é a humanidade do erro que nos iguala e ter consciência disso é que diferencia o justo.

Que é preciso (des)confiar.
Que ceticismo nem sempre é “pouca fé”; e nunca deve ser motivo de paralisia.
Que a indignação não precisa necessariamente ser explicitada.

A ser o que se é, mesmo, no limite, mudando a cada instante.

Garra, resiliência e agilidade em se reequilibrar são alicerces do sucesso.
Complacência e paciência com os inevitáveis percalços são pilares da saúde.
Pragmatismo de lidar com injustiças da vida, tanto em nosso benefício, quanto contra nós, é semente de sabedoria.

Caminhos dignos são aqueles que permitem a demonstração prática dos valores.

As vantagens de ritmo e cadência na busca da vida que vale a pena ser vivida.
Necessidade e grandiosidade do perdão
Irrelevância e impossibilidade do esquecer como motivo para condescender

Paternidade como companhia, sempre, ainda quando distante.
Paternidade proporcionando amplos espaços e liberdade, sem medo dos riscos de percursos, as fontes humanas de aprendizagem.
Apoio incondicional nos erros, celebração genuína, humana, simples nos acertos.

Sabedoria da priorização do relevante para intervenções educativas.

Aprendi sobre a fugacidade dos papéis de pais e filhos.
Sobre o pragmatismo da transformação das relações.
Sobre a perenidade do respeito, gratidão e amor filial.

Aprendi com meu pai a ser pai

E que o melhor pai é o que se torna eterno amigo