domingo, 14 de outubro de 2012

Pescas, botões e livros



Com meu pai, aprendi o sabor dos livros.
A culinária das palavras.
A sensação de plenitude ao ler e escrever.

Que pensamentos sem palavras são inúteis; assim como palavras sem ações.

Que dinheiro não é tudo; mas é importante.
Que só o acumular não é vencer.
Que qualquer excesso é ruim e a maioria das coisas, na medida certa, é o mapa para a vida boa.

A leveza segura de se poder aceitar a vida de camisa branca, shorts velhos, pés descalços e livros no coração.

Que o maior prazer da vida é buscar o impossível tudo-saber.
Que quanto mais aprendo, menos sei.
Que saber que não sei é o melhor saber; é motivacional.

O perigo de ilusórias marcas de grife e religiões formais, que ameaçam liberdades e provocam tragédias.

Quanto à factibilidade da convivência discordante.
Quanto às vantagens do respeitoso diálogo
Quanto à grandeza de se considerar, polir, acalentar e adotar ideias alheias.

Que é a humanidade do erro que nos iguala e ter consciência disso é que diferencia o justo.

Que é preciso (des)confiar.
Que ceticismo nem sempre é “pouca fé”; e nunca deve ser motivo de paralisia.
Que a indignação não precisa necessariamente ser explicitada.

A ser o que se é, mesmo, no limite, mudando a cada instante.

Garra, resiliência e agilidade em se reequilibrar são alicerces do sucesso.
Complacência e paciência com os inevitáveis percalços são pilares da saúde.
Pragmatismo de lidar com injustiças da vida, tanto em nosso benefício, quanto contra nós, é semente de sabedoria.

Caminhos dignos são aqueles que permitem a demonstração prática dos valores.

As vantagens de ritmo e cadência na busca da vida que vale a pena ser vivida.
Necessidade e grandiosidade do perdão
Irrelevância e impossibilidade do esquecer como motivo para condescender

Paternidade como companhia, sempre, ainda quando distante.
Paternidade proporcionando amplos espaços e liberdade, sem medo dos riscos de percursos, as fontes humanas de aprendizagem.
Apoio incondicional nos erros, celebração genuína, humana, simples nos acertos.

Sabedoria da priorização do relevante para intervenções educativas.

Aprendi sobre a fugacidade dos papéis de pais e filhos.
Sobre o pragmatismo da transformação das relações.
Sobre a perenidade do respeito, gratidão e amor filial.

Aprendi com meu pai a ser pai

E que o melhor pai é o que se torna eterno amigo

sábado, 18 de agosto de 2012

domingo, 12 de agosto de 2012

Sobre autonomias, importâncias e impotências


Ele se sentia importante
Como a estrela que explodia,
Já gigante e vermelha,
Enquanto, sem querer,
Pisei na desavisada formiga azarada,
Que voltava ao formigueiro,
Com a folha que ele arrancara,
Ao passar de braços erguidos.

E a cigarra comeu a folha;
E virou uma borboleta,
Das que a minha filha adora e imita.

Pois na minha história mando eu,
E nela não entram lagartas.
Mas há sim gente importante,
E estrelas e gigantes,
Folhas e filha,
Azar e cores,
Cigarras e borboletas.

E eu mesmo; mas só faço uma pontinha.

Pensativo na cama, no dia dos pais em 2012

terça-feira, 26 de junho de 2012

Rio +100: crônica de uma ingênua utopia


Escurecia naquele domingo, 15 de junho de 2092, e Eduardo preparou-se para hologramar sua auto-avaliação diária de bem-estar.
Acabara de consertar o sistema subterrâneo de refrigeração de ar que não usava desde o último verão. Um verão em que a máxima atingira 38 oC nas praias em que chegava em menos de duas horas, descendo de bicicleta pela estrada exclusiva a ciclistas da serra onde morava. Pensou na Rio+100 e lembrou que seu pai comentava que na terça-feira da Rio+20, em junho, a temperatura tinha ultrapassado 35 oC na mesma região. Olhou o equilibrador de demanda energética da região serrana da megalópole que unia as antigas cidades de São Paulo, onde nasceu, e do Rio de Janeiro, onde passou sua infância. Resolveu que usaria fontes eólicas para contribuir com o balanço geral. Até porque ele e um grupo de amigos investiam suas poupanças em títulos de dívida das cooperativas Éolo, a maior dentre as nove empresas que cuidavam deste sistema; a que já tinha atingido o tamanho máximo permitido. Pensou que devia transferir o dinheiro para a principal concorrente, a cooperativa Bóreas-Nótus, proveniente de uma recente fusão. Transferiu a água coletada naquele dia ao reservatório central e a sobra desviou para a rede comunitária. A destinação seria para comunidades de menor poder aquisitivo. Apesar da população na região que correspondia ao antigo Brasil ter se estabilizado em cerca de duzentos e vinte milhões de habitantes, e das questões de educação e saúde terem sido de fato universalizadas eficazmente com gestão local, uns quatro milhões ainda dependiam de apoio comunitário para energia, água e saneamento. Em especial naquela região, onde ainda havia enchentes nos meses de janeiro e fevereiro, apesar do modelo político com governança baseada na bacia hidrográfica inteira, que havia sido implantado com apoio de seu pai. A otimização do balanceamento energético intra e inter-regionais era um dos temas da Rio+100. Com bons indicadores de equilíbrio, a região poderia ser beneficiada na próxima alocação de recursos filantrópicos para o desenvolvimento das artes arquitetônicas e crédito para as micro-empresas da região. O micro-prefeito, maior autoridade politica daquela bacia, agradeceria.  Seu pai lhe explicara que anteriormente este tipo de crédito era chamado “a fundo perdido”. Que nome estranho... Já se provara cientificamente que este tipo de recurso era o que proporcionava maiores incrementos no nível geral de bem-estar, além dos diretamente beneficiados pelos projetos caros e demorados. Ainda bem que aquele dogma da taxa de juros e as "penitências" pelo pecado de não cobrá-las, haviam sido questionados e repensados de forma estrutural... Ele lembrou também da batalha que houvera para reduzir a importância relativa indicador PIB e enraizar os novos indicadores criados após a Rio+20. Estes sim relevantes como fundamentos para políticas públicas.
Na Rio+100, Eduardo apresentaria sua nova obra teatral, baseada na metáfora do balanceamento dinâmico de fontes energéticas com o também dinâmico balanceamento de valores entre gerações distintas. Crianças de até cinco anos honrariam seniores de mais de noventa. Ainda estava cansado e feliz pelos ensaios exaustivos da semana anterior... Engajado, não sentia o tempo passar... Mas já estava com 84 anos e nem o descanso físico que se permitiu na sexta, sábado e domingo, com caminhadas pela Mata Atlântica tinham sido suficientes para restaurá-lo completamente...
Pensou na humanidade e nos problemas atuais, que o faziam sofrer muito. A questão de como lidar com os mutantes, seres superativos que não dormiam e eram responsáveis por 75% dos crimes de violência e homicídios ao redor do globo; uma minoria que aumentava a taxas enormes, frente a uma população global estabilizada em torno de nove bilhões de habitantes desde 2075. O desafio da estagnação do índice de Gini em determinadas regiões: apesar da média global estar em 0,270 (valor próximo do das antigas França e Finlândia na época da Rio+20), ainda havia regiões com índice de 0,500 (patamar, ascendente mas ainda ruim, do Brasil oitenta anos antes). O mistério do efeito das emissões globais de CO2 sobre a biodiversidade: apesar de controladas desde 2050, previsões científicas se provaram otimistas demais e muitas espécies continuavam sendo extintas. As hipóteses recentes indicavam relação com a mudança de padrões das explosões solares, também sendo estudadas pelos melhores cientistas. Havia ainda a alta discrepância nos resultados do PISA entre os povos próximos que habitavam e cuidavam da Floresta Amazônica, ainda que sujeitos a métodos educacionais similares. Enfim, muitas preocupações.
Sorriu ao pensar que esses “genes preocupados” advinham do pai: “Nas costas, sinto o peso do mundo; a leveza do canto matutino de pássaros na alma”...
Assim como eram do pai os genes que o fizeram sofrer com a derrota da seleção brasileira para a seleção argentina na Copa de 2090. O futebol ainda mobilizava multidões, e tornou-se de fato unanimidade global após a operação global anticorrupção liderada pelo FBI. A prisão conjunta e congelamento dos bens de mais mil envolvidos, inclusive políticos, foi um dos marcos históricos da nova era.
A Copa do Mundo lembrava da antiga divisão política do mundo, enquanto a geopolítica modificava-se aceleradamente, numa nova lógica de ecossistemas econômicos e sociais. A Copa de 2090 fora aberta com apresentação dos Brazilian Globe Soccers. A arrecadação seria convertida para o grupo de meninas dançarinas malabaristas da região da floresta Amazônica, as Green Girls que a mãe sempre mencionava que se inspiraram num antigo grupo chamado Blue Man. Ambos os projetos tinham sido idealizados e implementados pelo pai, antes de entrar na política em 2016, ano das Olimpíadas no Rio de Janeiro.
Finalmente se deu conta que divagava; respirou fundo e focou nas memórias do dia. Escolheu os três eventos principais para guiar sua autoanálise. Pela manhã reunira-se holograficamente com a irmã: meditaram em conjunto, em homenagem ao pai e à mãe. Vinte e cinco anos antes, aos cem anos do pai, o casal se dispôs ao suicídio assistido para doação de órgãos cujos tecidos e células, conjuntamente, salvaram dez crianças que não estavam respondendo aos tratamentos biogenéticos. Aquele era o enigma que a irmã Luana, com 82 anos, desejava um dia resolver: quais os determinantes que impossibilitavam 0,5% das crianças entre três e sete anos não poderem se aproveitar da nova tecnologia que por radiação e meditação controlada, corrigia, ainda na primeira infância, riscos de tumores. A irmã colaborava com a cooperativa de alta tecnologia de onde morava, localizada na região do mesmo campus onde o pai se graduara, na época em que o sistema educacional se baseava unicamente em presença física em instituições chamadas “universidades”.
Eduardo classificou a conversa com a irmã como um evento de “Significado”, posto que seu florescer pessoal dependia muito de interação com pessoas queridas, mediadas pelo prazer da arte e exercícios. Sorriu ao pensar que tal característica certamente tinha vindo dos genes de sua mãe. A meditação fora conduzida com apoio do equipamento de variação luminosa que ajudava na estabilização do cérebro em ondas teta, facilitadoras de estados de criação e originalidade; ao fundo acústico de uma releitura da "1812" Overture, Op. 49 de Tchaikovsky. A experiência mereceu uma boa avaliação.
Outro evento importante foi o encontro com Ahmadinho e Levi. Os três tinham estudado teatro-artesanal-musical juntos na região do Tibete, um país que ainda se mantinha com as mesmas fronteiras originais, pelo efeito simbólico que carregava. Os três haviam se especializado no estilo conatus, e se formaram no mesmo ano em que o Tibete foi simbolicamente consagrado com o centro humano da arte e da espiritualidade.
Enquanto Eduardo voltou ao ponto do planeta que era a fonte de energia limpa e de alimentação saudável para a maior parte da humanidade, os amigos resolveram morar juntos em Jerusalém. Participavam da comunidade que discutia e negociava uma unificação teológica global. Ainda tinham muito trabalho com os conservadores de cada uma de suas comunidades originais... Infinitas reuniões holográficas e presenciais... Eduardo não acreditava no sucesso de tal empreitada. Porém sabia que carregava “genes céticos” e por isso pouco discutia sua opinião com os amigos. O judeu e o muçulmano aproveitaram a Rio+100 para visitá-lo e era isso que importava. Enquanto retiravam frutas do pomar do telhado, para o lanche da tarde, Levi fez um comentário sobre decisões de Israel nos anos anteriores à Rio+20. Eduardo notou ligeira mudança na face de Ahmadinho. Emocionalmente treinado, ele não retrucou, mas Eduardo sentiu a tristeza no amigo muçulmano e se sentiu impelido a conversar com ele. Puxou papo sobre longos caminhos curtos e curtos caminhos longos e desandaram a conversar sobre o rabino Nilton Bonder. Levi entendeu a deixa, entrou na conversa com análises elogiosas do Alcorão e o clima voltou ao normal. Eduardo era bom nessas coisas. Considerou aquilo um evento de “Relacionamento” e se deu uma nota média-alta. Embora tivesse obtido resultado desejado, ainda se sentia “mal pelos outros” e queria se forçar a trabalhar a sentir a merecida positividade nesse tipo de situação, que racionalmente sabia ser uma de suas virtudes de grande potencial humano.
O grande evento do dia tinha sido assistir, com os amigos, o histórico filme holográfico “A Batalha Correta”. O cinema evoluíra e a tecnologia permitia mostrar personagens e cenários em quatro dimensões, a obra recontava sobre o encontro de líderes mundiais, duas semanas depois da Rio+20. O evento Rio+20 fora considerado um fiasco. Apesar do clima pacífico, predominavam confrontos irracionais entre o primeiro, o segundo e o terceiro setor. Conflitos ideológicos de posições que dificultavas o diálogo sobre reais interesses. As vozes aumentavam de tom.
Mas à Rio+20 seguiu-se o encontro político histórico, um episódio ilustrativo do potencial der reação da raça humana; do porquê da espécie ainda estar no topo da cadeia evolutiva. As protagonistas foram mulheres, como bem lembrava a obra prima cinematolográfica. As atrizes foram perfeitas em cada gesto e, com a maquiagem e tinturas corporais provenientes de ativos da biodiversidade regeneráveis, pareciam de fato com as pessoas que representavam. A humildade de Dilma convidando Marina da Silva para um encontro com a Chanceler Angela e a Sra. Obama. Revoluções nas agendas globais advindas da coragem da primeira presidenta brasileira de convocar a reunião inesperada. O aceite imediato de todas, em tese improvável, que levou toda a grande imprensa do mundo a se movimentar para uma Ilha Grega, depois para a Acrópole de Atenas; e daí para Tóquio e depois Shangai, em julho e agosto daquele ano de 2012... Primorosa era a cena que mostrava a objetividade e agilidade de Michelle ao convencer o marido a enfrentar o Congresso em época eleitoral, bem como sua criatividade ao envolver personalidades femininas da sociedade civil do Irã, Iraque, Etiópia, China, Japão e Coréia. Grandes momentos da humanidade sempre destacaram Grandes Líderes. Efeitos especiais jogando com o tempo, luzes, sons e espaços espelhavam a alta capacidade de execução daquele quarteto de mulheres que, em dois dias de trabalho intenso e ininterruptos, escreveu o “Compromisso com a Mãe”, baseado na Carta da Terra. O grupo foi apelidado de MODA, em homenagem às iniciais de Marina, Sra.Obama, Dilma e Angela. Até hoje se discute se o predomínio brasileiro na indústria fashion global adveio do apelido do grupo, ou se já era um fenômeno nascente que só se acelerou. Enfim, o MODA aterrissou as intenções conceituais dos infinitos documentos escritos nos eventos políticos anteriores em um único compromisso e formalizou programas pragmáticos de transformação. Houve a ação financeira de unificação monetária gradual, com a moeda única, Gaia, gerenciada por uma instituição central que reunia, em tempo integral, os melhores economistas de todo o mundo, mas também psicólogos, filósofos, físicos, biólogos e teólogos. Ainda em implementação em 2092, a união monetária vinha sofrendo com as postergações da quitação de dívidas das antigas Grécia, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda e Argentina. Houve a regulamentação central da emissão de ativos governamentais de longo prazo e teto à dívida planetária total. A regulação unificada dos sistemas financeiros, o que acabou com os antigos paraísos fiscais e reduziu ferozmente a capacidade de crescimento das indústrias das drogas e contrabando de armas. Em Big Bang, no dia 07 de setembro de 2012, foram eliminadas incondicionalmente todas as barreiras alfandegárias não-tributárias. A confusão dos meses seguintes, que era prevista, foi o mal necessário a uma das mais importantes decisões da humanidade. O complemento foi o congelamento imediato, com redução gradual das tarifas comerciais. Assim como dos subsídios às indústrias de petróleo, mineração e agrícola. A OMC foi ampliada e adquiriu responsabilidades sobre o meio ambiente. Seu primeiro projeto foi precificar os principais serviços ambientais e, após muita discussão, organizar o mundo sobre as emissões de gases do efeito estufa: o mercado de título foi eliminado e em seu lugar foi criada uma estrutura global única de tributação. Idem para a água e espaços de descarte de resíduos, inclusive oceanos e espaço sideral. Os serviços ambientais precificados causaram imediata realocação de investimentos, inicialmente no G20, com novo foco em infraestrutura sustentável e incentivo à P&D. Em 50 anos foi implementado o compromisso de desarmamento integral da humanidade, com redirecionamento de verbas para educação e saúde, e dos esforços em tecnologia bélica para a colonização espacial, subterrânea e submarina em bases sustentáveis.
Extraordinários efeitos secundários ainda apareciam e melhoravam a vida de qualidade dos humanos: da mudança radical nos sistemas educacionais, ocorrida em torno de 2025, à proliferação de pequenas e ágeis empresas e cooperativas em todo o mundo. O capitalismo se reinventou com a onda empresarial de implosão dos grandes conglomerados, na década de 80. Como mamutes darwinianamente buscando sobrevivência, os conselhos de administração defenestraram executivos preocupados com o próprio umbigo e em sustentarem suas remunerações inconsistentes com os resultados que entregavam, e impingiram spin-offs das unidades de negócio mais dinâmicas; era a única maneira de sobreviverem em mundo de inovações sustentáveis e com o desempenho empresarial quantificado por métodos contábeis mais lógicos, que levavam em conta e tributavam os custos ambientais e não mais, por exemplo, o custo de pessoal.
Por indicação unânime, foi Marina quem liderou a negociação com os grandes “prejudicados” da época: empresários de indústrias em cadeias de valor ainda enterradas na mentalidade da era fóssil, a indústria bélica formal e a “informal”, opositores políticos da iniciativa, tanto os esperados do primeiro setor quanto alguns inesperados do terceiro setor. Máscaras caíram...
Uma das grandes cenas do filme foi a da lágrima escorrendo do olho de Marina ao fim do diálogo, em reunião no Tibete, com Hu Jintao, líder do Partido Chinês. Assim que este aceitou tornar as reservas financeiras da China as primeiras a serem transformadas em Gaia, caso seus vizinhos asiáticos fizessem o mesmo. E abandonar o Tibete caso os Estados Unidos, Rússia, Coréia, Índia, Paquistão concordassem em participar de um programa de expansão interplanetária, com o concomitante redirecionamento da indústria bélica para este fim. O abraço do Grande Líder na pequena amazona contrariou protocolos formais do encontro e arrancou aplausos simultâneos no mundo inteiro que assistia a tudo em equipamentos que eram chamados de televisão a cabo e Internet. Não houve o Tsunami que a mídia catastrofista esperava, pelo uníssono das palmas em frequência repetitiva.
Foi o abraço inesperado que, talvez por isso, simbolizou uma nova forma de interagir da Nação Asiática com o resto do mundo.
Empolgante é uma palavra insuficiente para descrever cada negociação da Marina, acompanhada pelos líderes religiosos de todas as correntes, sempre de mãos dadas. Ao lado das quatro celebridades, cinematográfica, da música, da literatura e da arte que foram escolhidos em uma eleição com um bilhão de votantes, conduzida em parceria entre a rede Avaaz e o Facebook. Justin Bieber era o único integrante do grupo do gênero masculino.
A delegação foi suportada, economicamente e na estratégia de negociação, por empresários visionários da nova economia.
O holofilme fora eleito a décima maravilha da humanidade e era o símbolo maior da era que já começava a ser chamada de “A Ressureição Humana” por historiadores que discutiam semelhanças e diferenças em relação à Renascença. Diversos estudos dissecavam Berlin, Nova York, Brasília e Florença, procurando identificar, em bases científicas, as causas deste tipo de fenômeno humano de ruptura, com o qual vez por outra, a esperança vencia o medo.
Os humanos da geração de Eduardo e Luana puderam presenciar a inauguração, com quase dez anos de atraso em relação aos respectivos projetos, e muita reclamação da juventude da época, da primeira megalópole submarina. A inauguração se dera durante a Rio+90 e o projeto ia bem. A capital permanecia instalada e 1400 W e 400 N, no exato local do antigo “Pacific Trash Vortex” ou “o Great Pacific Garbage Patch”, na região batizada de “Marina Humana”.
A primeira cidade subterrânea no deserto subsaariano nasceu na Rio+95, como piloto para colonização em outros planetas. A primeira cidade lunar provavelmente estaria pronta na Rio+105. As denúncias de corrupção já tinham sido investigadas e a conclusão fora que o atraso ocorrera por pura incompetência de gestão e por recorrentes problemas nos sistemas de TI, na década inicial do projeto.
Eduardo lembrou-se da filha, que morava em Marina. Ela se dedicava ao estudo de um plano de soluções de longuíssimo prazo para a Humanidade. Plano que envolvia colonização espacial sustentável e trabalhava com a visão de, antes do ano 4024, propor uma solução de sobrevivência para a Humanidade, inclusive com seleção de espécies animais e vegetais indispensáveis, para quando, muito além no futuro, nosso Sol se transformar em Gigante Vermelha e depois em Anã Branca. A inspiração do estudo veio da antiga ficção científica – a série Fundação – criada por Isaac Asimov.
A nota dez que Eduardo deu a este evento adveio de seu orgulho e gratidão de poder estar vivendo em tal momento da humanidade. Aí percebeu um “detalhe técnico”: a teoria da Psicologia Positiva, ciência criada por Martin Seligman, que ganhava peso na época da Rio Eco-92 e atingiu uso amplo em 2050, não previa em que dimensão encaixar este evento. Não era pura emoção positiva, nem puro engajamento, nem puro relacionamento positivo, nem puro significado, nem pura realização. Pensou que a teoria, que tinha virado quase um dogma humano, sendo usada em quase todos os lares e sistemas educacionais do planeta, merecia ser revista. A teoria, assim como a educação, a arte e mesmo a humanidade acaba, na prática, sendo outra, pensou Eduardo. E sentiu sono. Entoou o koan musicado com o qual apagava eletronicamente a iluminação da sua casa. Baixou manualmente, da parede de garrafas recicladas, sua cama com o colchão dermocosméticoortopédico. Deitou e dormiu, como desde sempre faziam os humanos. E sonhou com uma peça para a Rio+110. Uma peça sobre a integração pacífica dos mutantes na sociedade terrestre.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Humor Finado e Refinado - O Reencontro de Millôr Fernandes e Chico Anysio


Chico Anysio: “Não tenho medo de morrer, tenho pena.”
Millôr DEFINITIVO - MORTE (P. 317)
  • Pensamento final, de todo o mundo: “Mas já? E por que eu? Por que tão cedo? Por que assim? Por que pra sempre?”
  • A morte mata. É sua função e ela a exerce. Ao contrário da vida. Não existe a expressão; a vida vive. A morte me apavora. Não só a morte final. Também, e sempre, a morte diária, o resgate, tento a tento, do tempo que me deram de vida. A hora que passa. O instante que flui (...)
Enquanto Millôr se aproximava do paraíso notou duas coisas: primeiro que errara em ter sido ateu; segundo que isso não faria a menor diferença. Caminhava e percebia que o mito terrestre de um “paraíso celeste” também fazia sentido. Estava num local especial: mesmo a metáfora em que pensou, de um cinema “1.440 graus em 4D”, deixava a desejar. Constantemente via pelo menos uns duzentos pores concomitantes do Sol. Todos diferentes pois vivenciava várias linhas de tempo conjugadas. Começou a entender o conceito divino de onipresença quando percebeu várias explosões de supernovas, instantâneas transformações de sóis em gigantes vermelhas, buracos negros em mútua “digestão” gravitacional. Ao som divino de pássaros eternos.
Ao se aproximar de um portão de entrada, atentou-se a uma confusão danada. Parecia haver uma celebridade no meio do tumulto. Havia: era o Chico, vestido de Salomé e cercado por arcanjos guarda-costas que tentavam tirá-lo do meio da multidão de almas humanas e criaturas divinas que o cercavam.
Assim que viu Millôr, que também era Fernandes, o Chico, que também era Anysio, transmutou-se em Profeta Jesuíno. Jogou-se no meio da multidão e conseguiu fugir.
O comediante pegou o escritor humorista pelo braço e disse: “vamos ver algum pôr do Sol”. Descobri um lugar onde acontecem um de cada vez. Correram calados. 
Chegaram à beira de um lago e se sentaram sob uma árvore. Imediatamente caíram em suas mãos lindas frutas, doces e saborosas. “Agora sei do que é feito o tal manjar dos Deuses” – disse Millôr.
Chico falou: “Precisamos procurar o Tom”. 
 “Você vai cantar agora?”. Balançando a cabeça, o morto mais experiente disse: ”Não. O Jobim”.
 “Eu topo; eu ´tô mesmo precisando de um cachorro engarrafado para repensar meu ateísmo.”
 “Millôr, você não ´tá entendendo... Estamos vivendo – é... modo de dizer -  o maior paradoxo de todos.”
“ Me conta! ´Tô curiosíssimo!”
“Cara, Deus é brasileiro mesmo. Isso aqui é uma merda, mas é legal. Precisamos falar com o Tom, que morou em NY e no Rio, e já deve estar lá dentro há tempos. Ele precisa nos explicar como essa coisa funciona. Acho que é meio como um purgatório entre o Brasil e os Estados Unidos, saca?”
“Não estamos no tal do Paraíso?”
“Estamos. Só que, se bem entendi, o inferno não existe. E esse paraíso aqui é uma zorra total.”
“Como assim? Por que aquela multidão? Por que os arcanjos?”
“Até onde entendi foi o seguinte: quando eu morri deu algum problema no sistema de TI e apareceram registros de todos os meus personagens. Os duzentos e nove e mais alguns que nem eu mesmo me lembrava. Eu expliquei para eles que devia haver algum erro, mostrei meu RG, habilitação, passaporte, carteira de trabalho, CPF, certidão de nascimento, crachá da Globo. Mas tinham instalado um novo software, chamado ZAP - ou algo similar -  e não teve jeito. Até agora não entrei.”
 “Como assim? Não dava para consertar?”
“Que dava, dava... Mas especulavam que seria caríssimo. E parece que o Espírito Santo já andara reclamando dos custos, cortando orçamentos. O Pai convocou o Comitê Executivo do Paraíso, o ComExPar, para lidar com meu caso. Vieram com a solução de eu incorporar cada personagem; eu entraria, e poderiam dar baixa no processo específico; daí eu incorporaria o personagem seguinte e seria expulso. Entraria como este novo, respeitando o procedimento do tal sistema de informáticaa.”
 “Deus me livre! Quero dizer... Acho que Ele não vai conseguir, né? Que trabalheira?!”
“Na verdade, eu até que gostei... Um gran finale. E resolvi deixar o Caetano Codó para ser o último, pois aí...”
“Pô Chico, ´tá de sacanagem comigo?! Homenagear político? E logo esse? Meu mais eminente odiado?”
“Millôr, pega a piada. Imagina esse político no paraíso? Seria o meu canto do cisne humorístico! O auge da ironia cômica! Depois eu entraria como eu mesmo. A ideia era boa. O fato é que começamos; só que o tal do ComExPar não pensou em algumas consequências. Na prática, a teoria é outra. Primeiro, um monte de gente, muito acima da capacidade do lugar, se aglomerou. E o que deveria ser um desentrave burocrático, um jeitinho brasileiro, virou um show de Humor. Gente de mais e os arcanjos perderam o controle.”
”Caramba. Entendi!”
“Acha que entendeu... Até aí estava tudo legal, pacífico. O problema foi quando incorporei a Salomé. Um vice-presidente levantou a mão e disse que Salomé não podia, pois isso caracterizaria um travesti e pela política católica tal e tal e coisa... O caso teria que ser levado a uma discussão no Comitê Consultivo Celeste. O pior é que foi o mesmo executivo pretensamente onisciente que tinha dado a inovadora ideia de como ‘burlar’ o sistema. Maria ficou do meu lado; todas as almas de falecidos do partido republicano americano ficaram contra. Advogados impetraram mandatos, afinal eu sou brasileiro e morei no Rio, onde a homofobia saiu de moda e já é motivo de prisão. Começou um debate cívico sobre a diferença entre travestis e homossexuais. Ainda bem que aqui é civilizado, democrático, burocrático. Fizeram passeatas. Deus Pai teve que interromper seu descanso. Aliás, após um benchmarking em Brasília, Ele agora descansa quatro dias por semana, viaja dois e trabalha um. Enfim, chamou os outros dois, que inclusive andavam meio brigados, para uma reunião exclusiva da Santíssima Trindade. Nem os membros do Comitê Consultivo Celeste participariam. Só Maria foi autorizada, pois uma presença feminina é sempre importante em assuntos complexos como esse. Eu continuei meu show de Humor. Todo dia uma piada. Diversa e divertida. Só que empacado como Salomé. Até que foi perdendo a graça. Tudo que é muito do mesmo, todo dia, sem inovar, sem mudar, perde a graça... Você chegou na hora que a multidão, num tumulto total, exigia que eu trocasse de personagem. Mas imagina se faço um negócio novo naquela confusão... Só ia piorar!”
“E a reunião?”
“Resolveram que era melhor encomendar um estudo a ser discutido no Comitê Consultivo Celeste. Estão fazendo uma concorrência entre empresas de consultoria especializadas em milagres inovadores. Isso vai demorar... Creio que teremos tempo de ver muitas explosões galácticas... Millôr, nem adianta você tentar se registrar: o tal do ZAP só processa um finado de cada vez. Mudando de assunto: e lá na Terra? Fizeram alguma piadinha de mau gosto comigo? Algo tipo ‘do pó vens, ao pó retornarás’?”
“Pô... Sabe que até que não... Acho que você é tão querido que no seu caso os espíritos de porco foram respeitosos... Será que vão falar muito do meu uísque?”
“Sei lá... Tem sempre um pessoal metendo o nariz onde não foi chamado. Agora que me ´auto-sacaneei´... Enfim, foi o Veríssimo que disse que o Ser Humano é o único animal que ri de si mesmo.”
“É... E pensar que um dia o Veríssimo estará aqui conosco. Imagina a crônica que ele escreveria se soubesse o que estamos passando aqui. Mas relaxe: só falaram bem de você. E merecidamente. Você foi sensacional mesmo. Revi aquele seu texto, de anos atrás, que apresentou no “Fantástico”, sobre quando especularam que você tinha morrido... Divino, com todo o respeito. E aquele outro em que você ´criativizou´ sobre a vida mudando de rumo, em marcha ré, do fim ao começo. Eu me dei conta que, depois, os americanos fizeram um livro e um filme com o mesmo enredo. Benjamim alguma coisa... Assim como o standup comedy que Ari Toledo lembrou ser brasileiro e pirateado pela matriz, essa ideia de dramatizar a vida de traz para frente foi sua, certo! Ou foi você que plagiou o gringo, seu malandro do riso? Enfim, eu realmente deveria ter posto o verbete ´Chico´ no meu MILLÔR DEFINITIVO.”
“Mas você pôs... Só que foi o Caruso.”
“Já estou sensível e agora me alfineta... Reforça que acabo de lembrar que esqueci de você.”
“Tudo bem, cara; o importante é que você investiu, e bem, quase uma página do livro com o Sir-Ney. Aliás, acho que foi isso que nos permitiu estar na lista de entrada VIP do paraíso. Meu Codó e seu Sir-Ney. E você nem pode reclamar. Até que durou muito. Se vivesse no Maranhão, poderia ter vindo para cá mais cedo... Vai, Millôr, não faz cara de triste... Você sempre foi tão forte!”
“Nunca me preparei para quando fosse acontecer comigo... ´Tô com saudade da vida.”
“Se animar e me der um sorriso, eu faço uma cena inédita do Justo Veríssimo, exclusiva para você!”
“Faz o Caetano Codó e me deixa dar um soco na sua cara?”
“O Codó será o último personagem a entrar no Paraíso. Sem negociação.”
“Tá! Quer saber... Deixe-me ver aquele pôr do Sol múltiplo ali, que eu já melhoro! Ah, dá para me arrumar um Uísque?”

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Parabola, Parabolé


Não sou homem de poucas palavras
Sou de muitas
Queria ser de todas.
E as prefiro escritas,
Para que ao vento não se percam.
Canto palavras, complexo tenor;
Pinto palavras, prolixo pintor.
Brinco, danço e ensaio em rascunhos.
Desenho e enceno.
Divirto-me ao as divertir.
Por vezes, enfrento-as, estico-as e manipulo-as, sim.
Mas não tergiverso, não divirto.
Venero palavras. Amo palavras.
Como as mais apaixonantes e elas me habitam.
As digiro ou regurgito.
Saboreio metáforas ou vomito frases.
Lambo morfemas.
Devoro significantes, excreto significados.
Galanteio palavras. Por vezes as traio:
Com sinônimos, com brincadeiras, com passagens.
Em consentida poligamia, adoro que outros as usem. Bem.
Respeito as palavras.
Aceito-as limitadas.
Consolo as emotivas.
Retruco às racionais.
Enalteço inclusive as que ainda precisam ser inventadas.
As crio e as crio. Em todas creio.
Defloro neologismos.
Perifraseio em orgasmos múltiplos.
Falando, versando, conversando.
Enaltecendo, xingando, duvidando.
Ironizando, complementando, concordando.
Citando, confabulando, dialogando.
Relendo, rimando, recitando.
Escrevendo. Vivendo. Escrevivendo.

domingo, 13 de maio de 2012

Todos os dias da Mãe Terra


Mãe nossa, que estás aqui
Glorificada seja, agora e sempre
Tu és nós e nosso reino
Respeitados com boa vontade
A terra, o mar e o céu
Sobre o pão de cada dia, que baste o hoje
Perdoai-nos as nossas ofensas
E nos ilumine para reconhecermos que a temos ofendido
E não nos deixeis cair em negativos niilismos, nem perigosos silogismos
Juntos a libertaremos, Mãe

sábado, 21 de abril de 2012

sábado, 14 de abril de 2012

Segundo tempo do primeiro setênio - poema de aniversário a meu filho


Filho, este é seu poema
Com amor, carinho e saudades
Rogo a seu Ser Companheiro
Que independa de idades

Pois mais que a saudade isto vale
Pois à distância, estou perto
Pra que nossa vida exale
Prazer de um sorriso aberto

De alegria, mais que esperto
Desenha-se, já com malícia
Menino de quatro anos
Ser seu pai é uma delícia

Companheiro, amigo moleque
Na filosofia aprendi
Que enquanto corre esse Chronos
Só vale o agora e o aqui

Iniciado em 11/abril/2012, num bar do Itaim; concluído em 14/abril/2012, véspera do aniversário

No colo ou no cavalo?

E se a Lua quer meu colo?
Mira o pavilhão e sorri
Em meus braços a Lua mingua
Adoro o agora e aqui

E se for p´ra cavalgar?
Ao lado, a amiga areia
Pedra dura e, ali, o mar
O pai cavalo, ela arreia

Que bom que Lua´inda é nova
Que bom! Minha Lua é pequena!
Carrego no colo ou corcova.
Ah! Vida que vale à pena...

Bitoca na Lua cheia
Cheia de amor feminino
Mostra a bandeira alvinegra
Mostra, e canta o hino

O tremular preto e branco
Nessa vida colorida
Aquele sorriso “luanco”
Noite de Lua querida

É... a Lua é crescente...
Como o cavalo, é selvagem
Desce do colo da gente
Neném, só em miragem...

Quiçá, nos distanciaremos...
P´ra que ande sua história.
Às vezes, mãos dadas, lado a lado,
Cavalo e colo e memória.

Minha veríssima pré-saudade

“Relendo minha crônica sobre o encontro do Millôr com o Chico no paraíso, me dei conta que um dia o Luís os procurará por lá. Não quero!!!!”

sábado, 7 de abril de 2012

sexta-feira, 23 de março de 2012

O PRESENTE, SEMPRE...

O PRESENTE, SEMPRE...

Te devo um poema...
Daqueles profundos.
Das cavas do mundo,
 Pra que valha a pena.


Te devo, Luiz, 
Pela luz em minha vida.
Um ano atrás
Foi nova partida.

Te devo um escrito,
Respeitoso, em rito,
Que pague com juros
Seu Haikai bendito.

Te devo palavras,
Te devo fonemas,
Que mandem às favas
Maçantes esquemas.

Te devo estrofes,
Um cordel bonito,
Que soe e ressoe,
Energia em grito.

Sua essência não mente, poeta-empresário
O das mãos de ouro
Transmutas palavras
As torna em tesouro

O rio, sim, muda, poeta-empresário
A vida da gente, em essência, bem sabes
É sempre e toda
Um aniversário
Em 20 e 21 de março de 2012, relendo LIMIAR
e buscando a Lua na noite paulistana

sexta-feira, 16 de março de 2012

Primeiro poema a um filho

Primeiro poema a um filho 

Eduardo, filho sensível
Canta, dança e atua
Corajoso guerreiro
Agarra a paz que é sua

Sorri como uma criança
A tal criança vindoura
P´ra nos ensinar andança
Na nova estrada duradoura

A estrela que olhamos
Ao retomar histórias
Fantásticas que já contamos
Pai e filho personagens de aventuras e glórias 

Companheiro, malandro, moleque
Que em meu coração mexe e mora
Como o ipê amarelo, o tatu
E o periquito que adora

Chocolates que nos unem
Na dança do pode, não pode
Bola de meia e de gude,
Música que nos acode

Guerreiros, sim, ficam bravos
Garotos, sim, compartilham
Me ensina, filho, me ensina
Que meu coração é partido

É partido pela vida
Que só agora é minha
Briga, meu nobre guerreiro
Luta por sua sina

Que serei seu companheiro
Admiro sua graça divina
Pressinto seu paradeiro
Como um dos que ilumina

Primeiro poema a uma filha

Primeiro poema a uma filha

Luana, cadê sua saudade?
Seu brilho de paixão
De feminilidade...
Se foi com a idade?

Luana, me diz aonde se foi
O jogo do remexo de corpo
O riso disfarçado
Nariz, olho, beijo

Onde está seu pulo
O drible comportado
A ginga do sorriso
No “parque-pai” deitado

Anda mais distante
Os livros tão fechados
Não vemos o gigante
Não deitas a meu lado

Uma fênix de alegria
Das cinzas fez criança
Feliz, bondosa, amada
Das que com o pai dança

Vidrada, alma lavada
Volta p´ra perto perto, princesa
Passa logo dessa fase
Não vivo sem sua beleza

domingo, 11 de março de 2012

É Veríssimo: um Ruís Ferdinando Sempre Inacabado relê e atualiza o Millôr Definitivo!

Quem diria... Eu tenho inveja do Veríssimo e o Ruís tem inveja do Millôr, que como eu, ama sacanear o Sarney, que não ama ninguém...

Bunda (Millôr Definitivo, p.59)
“Quais são os limites da linguagem? Quem os traça? Claro, a publicação pode definí-los: bunda não sai. E abundante? E culatra? E recuar? E acuado? Que palavra sugere que eu use em vez de bunda? Nádegas? Juro que aí, sim, eu coraria de vergonha. Traseiro, pompom, bumbum, assento, posterior? Não, eu tinha que usar bunda, a palavra certa, bonita, essa bonita palavra africana. Jamais usaria um eufemismo gracioso. Como humorista profissional me proíbo gracinhas – coisa de amador. Se usasse rabo, palavra mais forte, também extremamente expressiva, estaria forçando a barra – no contexto da revista. Mas, muito bem; vetamos bunda no atual artigo. E se, em outro, eu escrever língua bunda, dos angolanos? Ignoro a existência da língua? Ou a chamo discretamente de língua nádegas (bilhete a um editor da revista Veja, 1978)”


Quem diria... Em 1978 se discutiam as possibilidades de bunda. Da mesma bunda que hoje perambunda irrelevante pelos Big Brothers preocupados com cenas, não de sexo implícito, e sim dos pseudos estupros quase explícitos. A bunda merecia um fim mais esplendoroso. Linda palavra. Daquelas que explicam em pormenores, por si mesma, exatamente e em detalhes o que significa. Outro dia entrei na sala da imigração no aeroporto de Guarulhos e gritei: “Bunda!”. Imediatamente um grupo de haitianos, um monge tibetano refugiado da violência chinesa e uma linda moça nativa de Ingria, que só fala Votic, botaram a mão para trás naquele tradicional movimento de “a minha, não”. Palavra que despreza as últimas barricadas contra a impiedosa globalização, as barreiras linguísticas. Palavra onipotente que devia ser sempre escrita só com maiúsculas: BUNDA.

É Veríssimo: um Ruís Ferdinando Sempre Inacabado relê e atualiza o Millôr Definitivo!

Quem diria... Eu tenho inveja do Veríssimo e o Ruís tem inveja do Millôr, que como eu, ama sacanear o Sarney, que não ama ninguém...

Big Brother (Millôr Definitivo, p.44)
“Em qualquer regime político, tem sempre um Big Brother te vigiando. Felizmente é incompetente”

No regime econômico capitalista os Big Brothers são inevitáveis, disfarçados de pesquisas de marketing, cadastros, mailings detalhados e database do Facebook. E estão cada vez mais competentes. Eu, por exemplo, apareço nas estatísticas como morando em Mirpur-Bangladesh e sendo poliglota (falo Crioulo de Seychelles, Língua sami de Ter, Kayardild e Votic).

Capitalismo/Socialismo (Millôr Definitivo, p.67)
“O socialismo é impossível a partir do pressuposto falso de que todos os homens valem o mesmo: na hora da partilha é o que se sabe. O capitalismo é impossível porque defende o pega-pra-capar: um homem pode valer um milhão de vez mais que o outro. Acredito que o limite matemático sensato (há que estabelecer algum limite) entre a absoluta igualdade e a absoluta desigualdade, é o fator 100. Nenhum homem pode ter um valor de mercado que lhe permita valer mais de cem vezes outro homem. Isso admitindo-se que o fator 1 dê pro essencial”

Eu, por exemplo, apareço nas estatísticas do Facebook como morando em Mirpur-Bangladesh e sendo poliglota (falo Crioulo de Seychelles, Língua sami de Ter, Kayardild e Votic). Valho R$ 679,03 para o FB. Se o FB vale US$ 1 bi e tem 850 milhões de usuários, valho 359,49 vezes mais que a média. Como bom brasileiro que sou, nem a lei do Millôr eu respeito...

É Veríssimo: um Ruís Ferdinando Sempre Inacabado relê e atualiza o Millôr Definitivo!

Características (Millôr Definitivo, p.65)
“Disse o assessor: ´Meu governador é um verdadeiro rato de biblioteca.´ Disse o assessor de outro governador: ´Pois o meu nem entra em biblioteca.´”

Esta foi fácil de atualizar. Basta trocar governador por ex-presidente. Daqui alguns anos, pode ser que biblioteca tenha que ser cambiada por alguma palavra que se refira ao mundo virtual em vez do brick&mortar. E tenho certeza que o que imortalizará esta reflexão do Millôr é a metáfora animal que cunhou. Animal em duplo sentido!

sábado, 3 de março de 2012

Será o imortal Sarney mais um a tentar desdizer o mortal Heráclito?

Será o imortal Sarney mais um a tentar desdizer o mortal Heráclito?

 “Tu não podes descer duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sempre sobre ti” - Heráclito de Éfeso

Olhando para nosso querido Brasil, não posso deixar de matutar sobre Heráclito; se o emérito filósofo poderia estar se esquecendo, assumindo que já se sabia naquele tempo, que há exceções que justificam regras.

Ocorreu-me a figura simbólica de que pode haver algo estrutural, estático, “sempre o mesmo” pelo que instituições, sociedades, grupos ou indivíduos poderiam "passar". Esta idéia não é minha. Autores admiráveis me mostraram que podemos estar confundindo um gesto, ou mesmo o sexo, com algo que é “nosso” ou de “alguém próximo”. Quando, na verdade, o gesto e o sexo é que poderiam ser as estruturas fixas. E nós seríamos os “alguens”, que estariam passando por estas imutáveis perenidades. Esta é a “liga” que pretendi implícita nos parágrafos do texto abaixo.

Só adaptei a idéia à mania brasileira de assassinar a História.

Tudo começa na década de 90, aliás, a do primeiro impeachment brasileiro – não lembro exatamente o ano – quando Milan Kundera me enlevou com Imortalidade. Pela capacidade de juntar ironia e astúcia na busca, infindável, de respostas sobre a natureza humana e o significado da vida. Há dois trechos memoráveis no livro. O mais relevante para minha divagação aqui são exatamente as linhas que iniciam o livro. Imortalidade excitou-me com aquela sensação de quando o time preferido faz um gol, com menos de um minuto de jogo, a partir de uma linda troca de passes, concluída com alguma jogada sensacional. O livro é uma vitória por goleada, numa final de campeonato, contra o maior rival.

O trecho apaixonante descreve uma moça na “melhor idade”, entre sessenta e sessenta e cinco, nas palavras de Kundera, se despedindo de seu professor de natação. Graciosamente passando por ele ao sair da piscina, virando a cabeça, rindo e sensualmente movendo a mão no gesto de “tchau”. Como se “jogasse, brincando, uma bola brilhante e colorida a seu amante”. Num “gesto de menina de vinte anos”. A partir desta observação, o personagem-narrador do livro conclui que há uma parte de todo ser humano que vive fora do tempo. A essência do gesto prevaleceu, como se, na verdade, fosse o gesto que existisse, sendo a senhora-moça apenas o meio pelo qual tal gesto eterno se mantinha vivo, acontecia intermitentemente, sempre da mesma forma.

Pouco tempo depois, em um dos ensaios no livro 131 Posições Sexuais, de Lu Lacerda, eu aprendi, em forma literária similar, sobre outro fenômeno humano. Justamente o ensaio em que a complexidade, vastidão e vagueza da sexualidade é a tese defendida, por coincidência, pelo meu querido orientador, amigo e “cupido-culpado” por meu casamento, o antropólogo Everardo Rocha.

Naquele belo ensaio, Everardo descreve uma tribo que baseia o sexo na transitoriedade; “explicavam que o sexo passava pelas pessoas em meio ao seu próprio percurso. Quando ele acontecia, era sempre como um descuido na passagem ou um estacionamento temporário ou encontro incerto”.

Em respeito à forma, importante como o conteúdo, faz-se necessária uma analogia com o esporte bretão. O ensaio de Everardo é como um belo jogo amistoso, sem retrancas nem entradas desleais, com jogadas fantásticas, muitos gols e, no fim, um empate justo; pois quem disse que é preciso haver vitória para haver beleza?

Nos dois momentos sublimes de minha procura literária, uma idéia inteligente: a de que uma instituição social, o gesto de despedida e o sexo, é que é a estrutura fixa pela qual transitam ou "são transitadas" pessoas e sociedades. Sendo inacessíveis e imutáveis.


Lindas imagens.

Não pude deixar de me aproveitar deste criativo estilo literário para lidar com o recente fato de que a cassação de Fernando Collor de Mello foi “cassada” (se é pleonasmo, é mais que merecido), por José Sarney, dos anais do Senado brasileiro. Senado com “S” maiúsculo e brasileiro com “b” minúsculo, pois de fato assim o é, na língua culta como na realidade brasileira.

Lembrei de aulas em que supostamente eu aprendia, apesar das ausências propositais de discussões mais detalhadas sobre Palmares e outros milhares de quilombos, sobre a Cabanagem, sobre a Farroupilha. De minha anterior ignorância sobre nossa brasileira absorção do estado do Acre. Sobre a verdadeira “guerra do Paraguai”. Tentei vislumbrar, sem julgamento de mérito ou entendimento dos motivos, Rui Barbosa queimando os registros, documentos e arquivos sobre a escravidão; tentei sentir o cheiro de pedra quente caindo na implosão do presídio de Ilha Grande, reduzindo a pó o concreto da prova literalmente concreta de mais uma guerra civil que preferimos negar, país pacífico e povo harmonioso que somos. O ponto não é analisar e julgar tais atos. É simplesmente entender, como já sugeriram outros, a facilidade com que a cultura brasileira aceita a distorção da História. É como se a estrutura fixa na sócio-política brasileira fosse uma personalidade psicopata. O caráter assassino que tenta embalsamar, enterrar e cremar informações importantes sobre fenômenos relevantes, porém já idos, numa constante contratação barata de atiradores, matadores profissionais (ou, quem sabe, na contratação profissional de atiradores, matadores baratos...) para espreitarem e reduzirem nossa História com “H” maiúsculo a uma “istória” escrita errado. Como se por esta estrutura fixa de pessoalidades e estamentos, passassem consecutivas gerações de políticos, de cidadãos, de indivíduos e pessoas, de amigos transitórios e inimigos transitórios de reis transitórios, numa lamentável ode à nossa perene desigualdade social e incapacidade de dialogar sobre ela de forma madura e compreensiva.

A analogia futebolística? Aqueles jogos que são pura violência, que terminam interrompidos pelo árbitro após expulsar tantos jogadores de ambos os lados que o limite mínimo de atletas em campo é atingido. Ou um jogo em que meu time perde. Como a derrota de uma das melhores seleções brasileiras de todos os tempos, na Copa de 82, para a Itália. A Itália que nem era de Silvio Berlusconi.

Horrorosa imagem. Um rio de água parada, poluída.

Em São Paulo, num quarto de hotel, durante meu sabático e voluntariado, maio de 2011

Minha veríssima inveja


Minha veríssima inveja


Na primeira crônica que escrevi, especulei sobre os motivos pelos quais José Sarney, ex-presidente da república e permanente do Senado, extirpou dos anais do Congresso menções ao impeachment de Fernando Collor de Mello. Sou do tipo que não pára de especular. Re-refletindo, pensei se não teria o Maranhense sofrido pura e humana inveja... Afinal Sarney é um imortal de nossa Academia Brasileira de Letras. Aliás, especula-se que, também por inveja, Sarney almeja retirar dos anais do Senado o próprio Senado, dado que tal projeto é de Oscar Niemeyer, que ousa desafiá-lo em termos de Imortalidade...
Voltando ao impeachment: Millôr Fernandes disse que Brejal dos Guajas se trata de "uma obra-prima sem similar na literatura de todos os tempos, pois só um gênio poderia fazer um livro errado da primeira à última frase" e afirmou ainda que "em qualquer país civilizado Brejal dos Guajas seria motivo para impeachment ". 
Como poderia então o impeachment ser de outro? Único caso! Para posteridade histórica. Nem pensar! Marimbondos de fogo nos anais dos outros é refresco, mas não no meu, deve ter pensado o Poderoso. E dá-lhe a capada nos registros de impeachment do coitado do Collor, que tem aquilo roxo mas não é imortal. E nem presidente do Senado, pelo menos ainda...
A inveja que afeta a todos nós...
Eu não lembro bem quando, nem onde, tudo começou. Acho que foi quando li uma crônica de meu invejado sobre o Fernando Henrique Cardoso. Pouco depois que o, na época, Presidente da República, disse à imprensa que não o lia. Ele sugeriu ao chefe maior do Estado que aproveitasse o tempo que economizava “não o lendo” para reler um autor que ambos admiravam: Fernando Henrique Cardoso. Sublime, se bem lembrarmos que Fernando Henrique Cardoso dissera algo similar a “esqueçam tudo que escrevi”.
Dizem que por volta de três anos de idade percebemos, de repente, que estamos vivos. E temos nossas primeiras memórias. O parto de minha inveja primordial deve ter antecedido esta crônica sobre FHC. Porém é esta que minha memória me permitiu re-significar e definir simbolicamente como o motivo de meu pseudônimo: Ruís Ferdinando Falsíssimo.

Depois houve o marido que, acometido pela confluência conjugada e maravilhosa dos cinco sentidos em uma experiência metafísica, ataca as nádegas da empregada; o “Louco” entrando em campo no fim do jogo, dado que as táticas racionais do técnico do time falharam; a convivência de meu invejado com a Luana Piovani numa ilha deserta; noivo e noiva, advogados, negociando e contratando autorizações para eventuais traições. As Cobras, O Analista de Bagé, A Velhinha de Taubaté, Dorinha...
Meu pecado capital, em relação ao Luis Fernando Verissimo, é o de uma genuína e legítima inveja.  Crescente inveja: se o crescimento do Brasil fosse determinado por esta inveja que sinto, estávamos crescendo mais que a China. Mas isto é papo para outra inveja...
O Falsíssimo é uma homenagem invejosa. Talvez também louvável.
Porque sou Falsíssimo no sentido de menos relevante, menos capaz, de gafanhoto que nunca será o  Mestre; porque devo homenageá-lo; porque cada vez que leio esse desgraçado (no bom sentido...), concomitantemente ao deleite, me nutre a maior inveja que sinto na vida. Pela criatividade simples e pela amizade que  tem com as palavras, as metáforas cômicas e as possibilidades criativas de estrutura da escrita.
E no limite porque, na série sobre pecados, qual o que coube a ele? A gula. Pau a pau com a luxúria na briga pelo posto de melhor pecado. E para não ficar atrás do João Ubaldo Ribeiro e seus Budas Ditosos, Veríssimo compilou, com a competência de sempre, o Sexo na Cabeça. E eu, aqui, falando da inveja... Pecado pouco interessante e antipático, simbolizado num livro infantil da Trace Moroney, que diariamente leio para meu filho, por um horrendo monstro verde.
Bem... segundo Al Pacino, como Milton no filme Advogado do Diabo, o pecado preferido do capeta é a vaidade. Deste, pelo menos, no meu caso mal resolvido com o grande mestre Luis Fernando, eu escapei...  Mas o caso estava mesmo mal resolvido: depois que constatei essa inveja, fiquei obcecado com minha relação com o Veríssimo.  
Pesquisei, refleti, busquei saídas, tentei vencer... Na cultura literária: sou voraz leitor, mas nem dá para começar a competir com o conhecimento acumulado, senso crítico e criatividade no uso e abuso de estilos e fatos que Verissimo consegue, com leveza, transmitir. Quanto a filmes e música, a lacuna é tão grande que nem vale investir letras, muito menos sílabas ou frases. A imagem que vale mais que mil palavras seria a de David e Golias, só que com a vitória do lado esperado.
Na produção literária: criei um pseudônimo e comecei a tentar emular o estilo de meu invejado. Como é difícil! Enquanto isso, aquela máquina humana de escrever não pára de publicar diamantes da diversão, da ironia inteligente, da crítica perspicaz. Para cada crônica medíocre, que demoro semanas a escrever e ter coragem de apresentar a uns poucos amigos do peito, que pelo menos tomarão cuidado para eu não chorar com as críticas, estimo que Veríssimo ofereça, a milhões de “Brasileiros e Brasileiras”, umas vinte maravilhosas novidades.
No futebol, quase cheguei lá: Veríssimo torce pelo Internacional e pelo Botafogo! Eu também. Empate técnico? Não! Ele é provavelmente mais Internacional... Eu sou mais Botafogo. E já torci pelo Ameriquinha do Rio. E, se há coisas que só acontecem ao Botafogo, nem se fale do Ameriquinha. E ele nunca mudou de time, só complementou o original. Eu, um “vira-casaca”. E contra o hino que falava sobre “torcer até morrer, morrer, morrer”
Péra aí... Vem surgindo algo... Aqui está! Lembrei de uma coisa. Detalhes de uma crônica sensacional renascem das profundezas de minha memória. A crônica, obviamente do Luis Fernando Veríssimo, é intitulada “Gaúchos e Cariocas”. Quem leu, entenderá.
Esta crônica é meu Pharmacon, em sentido platônico. Antes, mal usada, contribuía para minha inveja. Agora, administrada para me trazer de volta ao equilíbrio, faz efeito na saúde de minha alma. O próprio invejado me oferece este caminho de cura, a luz de esperança, uma semente de espiral virtuosa que preciso caminhar para expiar meus pecados. O segundo passo me vem imediatamente à mente como obviedade: eu nunca acreditei no discurso de ética impecável do PT. 
´Tá bom, ´tá bom... Joguei pesado agora... A inveja é uma merda.
  
 No Rio de Janeiro, minha Ítaca, numa noite chuvosa, bem coberto e agasalhado, durante meu sabático e voluntariado, agosto de 2011